terça-feira, 11 de novembro de 2008

APONTAMENTOS SOBRE A PROPOSTA CURRICULAR

A Secretaria da Educação descreve a atual proposta curricular implantada
na rede desde 2008 como um projeto para os níveis de ensino fundamental
e médio, sob coordenação da professora Maria Inês Fini, da assessoria
da pasta de educação.
A professora Maria Inês Fini é aposentada do departamento de educação
da Unicamp, já ocupou cargos no MEC e foi uma das responsáveis
pela implantação do ENEM, sendo muito próxima de Maria Helena Guimarães
de Castro, atual secretaria de educação, e de Guiomar Namo de Mello,
comungando das idéias centrais defendidas por ambas, ancoradas em uma
conceituação inovadora de currículo e avaliação, de construção coletiva e
autônoma da proposta pedagógica, de respeito às diferenças etc, mas com
tratamento de mão de ferro aos professores, que buscam responsabilizar
pelas mazelas da educação.
Na apresentação da proposta definem-se três conjuntos de documentos,
a saber: 1. Documento básico com princípios orientadores; 2. Documento
de orientações para a gestão do currículo na escola; 3. Os cadernos
do professor.

1. APRESENTAÇÃO

DOCUMENTO 1 – Princípios orientadores

Objetivos:

• Propor um currículo para os níveis de ensino fundamental II e médio
• Melhoria da qualidade das aprendizagens de seus alunos
• Realizar amplo levantamento do acervo documental e técnico pedagógico
existente
• Iniciar um processo de consulta a escola e aos professores
• Ser mais do que uma declaração de intenções
• Garantir a todos uma base comum de conhecimentos e competências

Gestão

• Promover competências indispensáveis ao enfrentamento dos desafios
sociais, culturais e profissionais do mundo contemporâneo.

• Aborda:

- principais características da sociedade do conhecimento
- pressões que a contemporaneidade exerce sobre os jovens cidadãos
- preparar os alunos para esse novo tempo
- priorizar competências de leitura e escrita

Definição de escola – Espaço de cultura e de articulação de competências
e conteúdos disciplinares

DOCUMENTO 2 – Orientações para a Gestão do Currículo na escola

• Finalidade específica

– o gestor deve ser um líder e animador na implementação da proposta
– Disponibilizar outros programas e materiais sobre o tema gestão para:

a) Assegurar aprendizagens dos conteúdos e constituição das competências
previstas na proposta curricular
b) Estímular a vida cultural da escola e do fortalecimento de suas rela
ções com a comunidade
c) Garantir educação continuada para professores

DOCUMENTO 3 – Cadernos do Professor

• Cadernos do professor por bimestre e disciplina
• Situações de aprendizagens para orientar o professor nos conteúdos,
habilidades e competências.
• Gestão da sala de aula, avaliação, recuperação, sugestões de métodos,
estratégias do trabalho nas aulas, atividades extraclasse e estudos disciplinares.

2. EDUCAÇÃO PARA A ALTURA DOS DESAFIOS
CONTEMPORÂNEOS

Caracterização da Sociedade do Século XXI
Mundo

• O uso intensivo do conhecimento para trabalhar, conviver, exercer cidadania
e cuidar do ambiente.
• A sociedade do século XXI é produto da revolução tecnológica
• Processos políticos redesenharam relações mundiais gerando um novo
tipo de exclusão (a das tecnologias e comunicação que mediam acesso
ao conhecimento e bens culturais)
• Exclusão – Bens materiais, conhecimentos e bens culturais.

Brasil – Educação

• Democratização do acesso, mas é indispensável à universalização da
relevância da aprendizagem.
• Valorização das características cognitivas e afetivas
• Capacidade de resolver problemas, trabalhar em grupo, ser cooperativo
e continuar aprendendo.
• O diferencial na competitividade será dado pela qualidade da educação
recebida (competências constituídas na vida escolar)
• A população mais pobre acorre à qualidade para inserção no mundo do
trabalho produtivo e solidário
• Atender a adolescência precoce com ingresso tardio no trabalho
• Ampliar a importância da escola como espaço privilegiado para o desenvolvimento
do pensamento autônomo - para formar autonomia responsável
• Ser estudante significa aprender a ser livre e ao mesmo tempo respeitar
as diferenças e as regras de convivência
• Acentuar diferenças culturais, sociais e econômicas. Só uma educação
de qualidade para todos pode evitar que essas diferenças constituam
mais um fator de exclusão.
• Desenvolvimento pessoal – aprimorar capacidades de agir, pensar, atuar,
atribuir significados e ser percebido e significado pelos outros.
• Educação a serviço do desenvolvimento, da construção da identidade da
autonomia e da liberdade.
• Educação articuladora que transite entre o local e o mundial de forma
cooperativa e solidária, uma síntese dos saberes produzidos pela humanidade.
• Tal síntese é uma das condições para acessar o conhecimento necessário
ao exercício da cidadania em dimensão mundial
• Aprender a aprender – autonomia para gerenciar a própria aprendizagem
– aprender a fazer e a conviver – resultado da autonomia em intervenções
solidárias é a base para a continuidade da produção cultural e
das práticas sociais.
• Preparar indivíduos para manter o equilíbrio da produção cultural num
tempo em que a duração se caracteriza não pela permanência, mas pela
mudança constante (o inusitado, incerto, e o urgente constituem a regra
e não a exceção).
• Apropriar-se ou não desses conhecimentos, pode ser um instrumento da
ampliação das liberdades ou mais um fator de exclusão.

Princípios centrais:

• A escola que aprende
• O currículo como espaço de cultura
• As competências como eixo da aprendizagem
• Prioridade da competência da leitura e da escrita
• A articulação das competências para aprender
• Contextualização no mundo do trabalho

3. PRINCÍPIOS – CURRÍCULO

A - Escola que também aprende
• A escola deixa de ser instituição que ensina e passa a ser a que aprende
a ensinar
• A capacidade de aprender se ampliará dos alunos para a própria escola
• A tecnologia facilita a viabilização da "comunidade aprendente" porque
imprime ritmo sem precedentes ao acúmulo de conhecimentos
• A escola deve aprender que o conhecimento coletivo é maior do que a
somo dos conhecimentos individuais

B – Papel da Equipe Gestora

• A equipe gestora é responsável pela formação dos professores e esses,
em conjunto com o grupo gestor são responsáveis pela problematização
e significação dos conhecimentos.
• Os gestores como agentes formadores devem aplicar como professores
tudo aquilo que recomendar que apliquem aos alunos
• Construção coletiva da proposta pedagógica por meio da reflexão e prática
compartilhadas.

C - Currículo como espaço de cultura

ANTES – Plano de trabalho indicava o que seria ensinado ao aluno
HOJE – O foco foi dirigido para a aprendizagem, não mais a liberdade de
ensino mais o direito de aprender.

• Todas as atividades da escola são curriculares. É preciso conectar o currículo
à vida com aprendizagens relevantes para os alunos.
• O conhecimento como instrumento mobilizador em competências reforça
o sentido cultural da aprendizagem.
• Numa escola com vida cultural ativa, o conhecimento torna-se um prazer
e pode ser aprendido ao se aprender a aprender.
• O professor é o parceiro de fazeres culturais
• O Projeto pedagógico tem como prioridade a cidadania cultural e o currículo
é a referencia para ampliar, localizar e contextualizar os conhecimentos.

D - Competências como referência

• Articular as disciplinas com aquilo que se espera que os alunos aprendam
• Atuação do professor, conteúdos, metodologia e aprendizagens têm funções
específicas, mas são indissociáveis e se complementam.
• Articular as disciplinas com as competências e habilidades dos alunos
para que esses façam a leitura crítica do mundo, enfrentem problemas e
ajam de forma coerente em favor das múltiplas possibilidades de solução.
• Competência caracteriza modos de ser raciocinar e interagir, que podem
ser desprendidos das ações e das tomadas de decisão em contextos de
problemas, tarefas ou atividades.
E – Caracterização dos alunos

• Alunos de 11 a 18 anos estão em momento complexo e contraditório, o
que deve orientar nossa proposta sobre o papel da escola nessa fase da
vida.
• Ponderar aspectos curriculares, recursos cognitivos, afetivos e sociais
que os alunos dispõem.
• Analisar como o professor mobiliza conteúdos visando desenvolver competências
em adolescentes

TRIADE SOBRE QUAIS COMPETENCIAS E HABILIDADES SÃO
DESENVOLVIDAS
• O adolescente e suas características de ações e pensamentos
• O professor e suas características e a qualidade de suas mediações
• Conteúdos e metodologias para seu ensino e aprendizagem

Motivo – democratização da escola e equidade é tarefa coletiva tendo a
frente o gestor para capacitar o professor em seu dia a dia. A unidade não
é obtida no ensino, mas na igualdade de oportunidades, na diversidade,
para garantir a todos uma base comum.


4. PRIORIDADE - COMPETÊNCIA DE LEITURA E
ESCRITA

• O ser humano constitui-se num ser de linguagem e disso decorre todo o
restante
• É na adolescência que a linguagem torna-se instrumento para compreender
e agir sobre o mundo real.
• Importante não apenas o domínio da língua mais de todas as outras linguagens.
As linguagens são sistemas simbólicos
• Na sociedade atual as linguagens e os códigos se multiplicam: os meios
de comunicação estão repletos de gráficos, esquemas, diagramas, fotografias
e desenhos.
• Para acompanhar tal contexto, a competência de leitura e escrita vai
além da linguagem verbal vernácula, refere-se a sistemas simbólicos,
tendo como base o pensamento antecipatório, combinatório e
probabilístico.

Antecipatório – Antecipar as conseqüências de uma ação sem precisar
realizá-la

Combinatório – Fazer combinações e analisar hipóteses sem precisar conferi-
las de antemão
Probabilístico – Estabelecer relações de relações – imaginar um objeto e
agir sobre ele decidindo se vale a pena ou não interagir com ele ou em
outro plano.

Criança – Realiza e compreende o falar, pensar ou sentir, mas não o sabem
como forma de linguagem.

Adolescente – É possível transformar o ser humano em um ser de linguagem,
em sua expressão mais radical – uma forma de compreensão e ação
sobre o mundo.

• A cultura da linguagem, do ponto de vista, social e afetivo, possibilita ao
adolescente aprender, pouco a pouco, a considerar suas escolhas em
uma escala de valores.
• É em virtude da centralidade da linguagem, no desenvolvimento da Criança
e do adolescente que se prioriza, como objetivo de todas as disciplinas,
a competência leitora e escritora e só por meio dela será possível
constituir as demais competências.
• A Responsabilidade pela aprendizagem e avaliação cabe a todos os professores
• O domínio das linguagens é um dos elementos de conquista e autonomia.

5. ARTICULAÇÃO DAS COMPETENCIAS PARA
APRENDER

• A aprendizagem é o centro da atividade escolar
• Papel do Professor: que é o profissional da aprendizagem e não tanto
do ensino: Apresentar e explicar os conteúdos, organizar situações para
a aprendizagem de conceitos, métodos, formas de agir e pensar, promover
conhecimentos que se mobilizados em competências e habilidades,
que instrumentalizem os alunos para enfrentar os problemas do mundo
real (educar para a vida).
• Papel da Escola: que não é a única detentora do conhecimento e da
informação: preparar o aluno para viver em sociedade que não exige
maior quantidade de ensino e sim melhor qualidade da aprendizagem.
Mais que os conteúdos isolados as competências são guias eficazes
para a vida. É exatamente a possibilidade de variar os conteúdos no
tempo e no espaço que legitima a iniciativa dos diferentes sistemas públicos
de ensino.

A proposta curricular adota como competências para aprender as
formuladas pelo referencial teórico do ENEM voltado para a
competência do ler e escrever:

I – Dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens
matemática, artística e científica:
LER: é interpretar (atribuir sentido ou significado)
ESCREVER: é assumir uma autoria individual ou coletiva (tornar-se responsável
por uma ação e suas conseqüências)

II – Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento
para a compreensão de fenômenos naturais, de processos históricogeográficos,
da produção tecnológica e das manifestações artísticas.
LER: modo de compreender, assimilar experiências ou conteúdos disciplinares
(e os modos de sua produção).
ESCREVER: Expressar sua construção ou reconstrução com sentido

III – Selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar
situações-problema.
LER: Antecipar, de forma comprometida, a ação para intervir no fenômeno
e resolver os problemas decorrentes deles.
ESCREVER: Dominar os muitos formatos que a solução do problema comporta

IV - Relacionar informações representadas em diferentes formas, e
conhecimentos disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente.
LER: Sintetizar a capacidade de escutar, supor, informar-se, relacionar,
comparar, etc.
ESCREVER: dominar os códigos que expressam a defesa ou a reconstrução
de argumentos

V – Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaborar
propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os
valores humanos e considerando a diversidade sócio-cultural.
LER: Antecipação de uma intervenção sobre o fenômeno, com tomada de
decisões a partir de uma escala de valores.
ESCREVER: Formular um plano para a intervenção, levantar hipóteses sobre
os meios eficientes para garantir resultados.

SÍNTESE: REALIZAÇÃO DE PROJETOS ESCOLARES QUE OS ALUNOS
APRENDEM A CRITICAR, RESPEITAR E PROPOR PROJETOS VALIOSOS
PARA TODA A SOCIEDADE.

6. ARTICULAÇÃO COM O MUNDO DO TRABALHO

• A legislação estabelece que no ensino básico não se trata de formar
especialistas nem profissionais, mas preparar para assumir plenamente
a cidadania o que passa pela alfabetização científica, humanista, lingüística,
artística e técnica, para que sua cidadania tenha qualidade. O
prazo para isso é todo o Ensino Básico.
• Que limitações e potenciais têm os enfoques próprios das áreas
• Que práticas humanas, das mais simples às mais complexas, têm fundamento
ou inspiração nessa ciência, arte ou área de conhecimento?
• Quais as grandes polêmicas nas várias disciplinas ou áreas de conhecimento?

A RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA EM CADA
DISCIPLINA DO CURRÍCULO

• Compreender como a teoria se aplica em contextos reais ou simulados,
pois parte dos problemas de qualidade do ensino decorre da dificuldade
em destacar a dimensão prática do conhecimento, tornando-o verbalista
e abstrato.

Exemplos:

1. Reproduzir a indagação de origem – a necessidade que levou a construção
do conhecimento.
2. História é considerada teórica, mas nada é tão prático quanto entender
a origem de uma cidade e as razões da configuração urbana
3. Química é considerada mais prática por envolver atividades em laboratório,
mas nada é mais teórico do que o estudo da tabela de elementos
químicos.
Não é preciso ser químico para escolher o que se vai comer.
Os cidadãos plenos devem adquirir discernimento e conhecimentos pertinentes
para tomar decisões em diversos momentos, em relação à escolha
de alimentos, uso da eletricidade consumo de água, seleção de programas
de TV ou escolha do candidato a um cargo político.

AS RELAÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA

A lei determina que deva se associar o currículo a "compreensão dos
fundamentos científicos dos processos produtivos" e detalha nas Diretrizes
Curriculares Nacionais que o aluno deve demonstrar ao final da Educação
Básica, o "domínio dos princípios científicos e tecnológicos da produção
moderna".

1. Alfabetização tecnológica - entender as tecnologias da história humana
como elementos da cultura, como parte das práticas sociais,
culturais e produtivas com o sentido de preparar para viver e conviver
em um mundo no qual a tecnologia está cada vez mais presente
em qualquer situação sócio econômica: tarja magnética, celular, código de barras etc.
2. Compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos da produção – A tecnologia é a chave para relacionar o currículo ao mundo da produção de bens e serviços, mas deve se evitar a existência de disciplinas "tecnológicas" isoladas dos conhecimentos que lhe fundamentam.
PRIORIDADE PARA O CONTEXTO DO TRABALHO

• O trabalho enquanto produção de bens e serviços revela-se como a prática
humana mais importante para conectar os conteúdos do currículo
com a realidade.
• O valor do trabalho incide em toda a vida escolar desde a valorização
dos trabalhadores da escola e da família, até o respeito aos trabalhadores
da comunidade, o conhecimento do trabalho como produtor da riqueza
e o reconhecimento de que um dos fundamentos da desigualdade
social é a remuneração injusta do trabalho.
• O trabalho deve aparecer contextualizado nos conteúdos escolares
• O currículo não pode deixar de incluir os tipos de trabalho e as carreiras
profissionais aos quais se aplicam os conhecimentos das áreas ou disciplinas
curriculares.

O CONTEXTO DO TRABALHO NO ENSINO MÉDIO

• O mundo do trabalho passa por transformações profundas
• Lei 5692/71 – tenta unir o ensino profissional e o propedêutico, mas
descaracteriza a formação geral, sem ganhos significativos para o profissional.
• A preparação deve prever a flexibilidade a novas condições de ocupação
ou aperfeiçoamento posteriores
• Ênfases curriculares diferentes – autonomia para eleger as disciplinas
específicas e suas respectivas cargas horárias dentro das três grandes
áreas instituídas pelas DCNs, trabalhando conteúdos para constituir competências
básicas que sejam pré-requisitos para a formação profissional,
o que pode ser realizada em disciplinas de formação básica do Ensino Médio.

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